“Nossa vida como Frades Menores deve ser um apelo ao amor de Jesus”, exorta presidente da UCLAF
São Paulo (SP) – O quarto dia da Assembleia Geral da União das Conferências Latino-americanas Franciscanas (UCLAF), nesta quinta-feira, 26 de janeiro, levou os frades, primeiro, à Capela do Convento São Francisco, no centro de São Paulo, para a oração das Laudes e para a Eucaristia. O presidente da UCLAF, Frei José Alírio Urbina Rodríguez, presidiu esses dois momentos na festa dos bispos da Igreja, São Timóteo e São Tito.
Segundo Frei José, neste contexto da XXVII Assembleia da UCLAF, a palavra do Senhor convida-nos e encoraja-nos na nossa missão cristã e, como Frades Menores, a continuar a pregar, anunciar, viver e testemunhar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Jesus não nos pede para sermos sensacionalistas ou praticarmos atitudes extraordinárias; ele nos pede para sermos seus seguidores, discípulos que dão testemunho da luz recebida do Senhor, que é o próprio Senhor”.
O Caminho Sinodal é o tema principal das Conferências da UCLAF neste encontro, visando renovar a visão e abraçar o o futuro a partir da identidade franciscana hoje em torno da realidade da América Latina, como comunhão e participação de todos os Irmãos neste contexto.
Para ele, nesta via sinodal, somos convidados a ouvir a Palavra, a ouvirmos uns aos outros no Caminho, a dar vida à pregação do Reino de Deus, vivendo as parábolas do Reino de Deus. “Então, como podemos fazer brilhar a luz na lâmpada ou no candeeiro? Porque não podemos nos esconder ou esconder o que recebemos do Senhor Jesus. A missão é receber e tornar conhecidas as suas palavras e a sua vida de amor, bondade e misericórdia. Não podemos esconder o amor recebido do Senhor Jesus, por isso a nossa vida cristã e a nossa vida como Frades Menores deve ser um apelo ao seu amor, misericórdia e bondade através de nossa vida”, exortou.
“Tomando as palavras do Evangelho de São Marcos: A nossa missão é tornar conhecido o Reino de Deus a partir do encontro com o Senhor Jesus Cristo, de amor, misericórdia e bondade com Ele e com os irmãos e irmãs concretos das nossas fraternidades e dos que nos rodeiam. Sabemos que há muitas provocações ou tentações de cansaço, medo, timidez, por vezes favorecendo o nosso conforto ou preguiça que não nos permite avançar, por isso lhes convido a fazer nossas as seguintes palavras de Paulo a Timóteo: em 2Tm 1,7 ‘Porque o Senhor não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, caridade e temperança’. Isso ajuda a superar a tentação de deixar a missão que nos foi confiada, como o Papa Francisco a expressa ‘… de uma vida de testemunho para que a luz brilhe, que é Cristo, o Senhor’”, continuou o presidente da UCLAF.
“Irmãos da UCLAF, todos nós recebemos a luz que é Cristo. Ele guia os nossos passos na escuta, discernimento e decisões fraternais neste contexto da América Latina. Caminhando juntos como Frades Menores, podemos iluminar outros irmãos e pessoas que querem sair da escuridão do medo, da desesperança ou da indiferença. Sempre ajudados, fortalecidos e a caminho como os Frades Menores que caminham juntos, como Paulo novamente expressa a Timóteo: 2Tm 1,8 ‘…suportai comigo os sofrimentos por causa do Evangelho, ajudado pelo poder do Evangelho de Deus’. Não desanimemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos medo, não confiemos em nossa própria força, não confiemos no que já fizemos…. Coloquemo-nos na presença do Senhor para darmos testemunho com as nossas vidas e as palavras que nos animam nesta Assembleia da UCLAF: continuemos a ‘Construir o Caminho Sinodal como Frades Menores’”, completou.
PROTEÇÃO DE MENORES E ADULTOS VULNERÁVEIS
O Definidor Geral, Frei Albert Schmucki, abriu os trabalhos neste quarto dia da Assembleia Geral, abordando o tema de proteção dos menores e pessoas vulneráveis. Segundo o Documento Final do Capítulo Geral de 2021, é “obrigação de todos os frades e Entidades da Ordem de cooperar plenamente na prevenção, denúncia e colaboração com todas as autoridades civis e eclesiásticas competentes na tarefa de garantir justiça e transparência no tratamento das denúncias de abuso em toda a Ordem”. Durante este Capítulo Geral, foi criada a Comissão de Proteção – que já vinha sendo estudada no governo anterior -, tendo em vista também ass Diretrizes para a Proteção dos Menores e das Pessoas Vulneráveis, definidas pelo Papa Francisco em 26 de março de 2019.
Na sua apresentação, Frei Albert, que é psicólogo, professor na Universidades Gregoriana e Antonianum, contou que seis frades da UCLAF fazem o Curso sobre Tutela, chamado de Diplomado, na Universidade Gregoriana. Com isso, esses frades (pelo Brasil, participa Frei Wanderley Gomes de Figueiredo) se tornam, nas suas Conferências, pessoas de referência, ligadas a esse Escritório da Ordem para ajudar neste trabalho. Frei Albert coordenou o programa de formadores da Ordem e agora é o responsável pelo Escritório de Proteção.
Cada Província foi provocada, por uma determinação do Papa Francisco, a elaborar diretrizes para a prevenção de abusos, criando ambientes seguros nos locais onde vivem e atuam. “Um aspecto é a prevenção, o outro é a escuta e acompanhamento de possíveis vítimas que já tenham sofrido abusos nos nossos ambientes. Depois também outro aspecto é a criação de um espaço, uma comissão, que possa receber denúncias, ouvir vítimas e dar os devidos encaminhamentos”, explica Frei César Külkamp, Definidor Geral para a América Latina. Hoje, se acontece um abuso com uma pessoa menor, a política do Vaticano é zero e o religioso deve ser excluído do instituto. No caso de colaboradores, voluntários etc, a política também seria zero no caso de menores.
O Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, é enfático na transparência e condução dessa questão. “Muitas Províncias ainda têm uma resistência em fazer processos de investigação e encaminhar para as devidas instâncias. E isso tem uma implicação direta na pessoa do Ministro Geral e nos Ministros Provinciais ou Custódios. A responsabilidade é automática. Quer dizer, a Igreja também tem uma política de tolerância zero para esses casos. Se um bispo, um ordinário, que é o Provincial ou Ministro Geral, não assumem ou não fazem o devido processo, são considerados culpados de participação no próprio ato, podemos dizer assim genericamente. Hoje, a Igreja tem tomado uma posição muito incisiva, como o Papa mesmo pede, de tornar todos os ambientes seguros para crianças e pessoas vulneráveis. Assim também é a política da Ordem”, acrescenta Frei César.
ECONOMIA A SERVIÇO DO CARISMA E DA MISSÃO
O Definidor Provincial da Província da Imaculada Conceição, Frei Robson Luiz Scudela, que também é ecônomo, falou nesta quinta-feira sobre o uso responsável e social dos bens da Igreja.
Contextualizando, Frei Robson lembra que o atual momento histórico chama a vida consagrada para avaliar-se ante uma difundida queda das vocações e uma contínua crise econômica. “A crise obriga-nos a projetar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e encontrar novas formas de empenhamento, a apostar em experiências positivas e rejeitar as negativas”, avalia o frade.
Segundo ele, os Institutos de vida consagrada são chamados a ser bons administradores dos carismas recebidos do Espírito também por meio da gestão e da administração dos bens.
A dimensão econômica está intimamente conexa com a pessoa e a missão. Para o frade, através da economia passam as escolhas relevantes para a vida pessoal e coletiva, nas quais deve transparecer o testemunho evangélico, atenta às necessidades dos irmãos e das irmãs.
“Os consagrados escolhem a profecia e se subtraem à ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A sua pobreza recorda a todos a urgência de libertar-se da economia da exclusão e da iniquidade, porque esta economia mata. Dessa economia teve início a cultura do ‘descartável”, lembrou Frei Robson.
Para ele, a economia é instrumento da ação missionária da Igreja. “Se o campo da economia é instrumento, se o dinheiro deve servir e não governar, então é necessário olhar para o carisma, para a direção, para as finalidades, para o significado e para as implicações sociais e eclesiais das escolhas econômicas que efetuam os Institutos de vida consagrada”, avalia.
Frei Robson chama a atenção para repensar a economia, uma dinâmica que se refere a vida de todos e de cada um: “É uma tarefa que não pode ser delegada a ninguém, mas exige a plena responsabilidade de cada pessoa”.
Para o frade, é indispensável redescobrir uma economia de rosto humano, na qual o homem e o seu verdadeiro bem não percam jamais a centralidade. “As relações fraternas, fundadas na estima sincera e na confiança recíproca, tornam-se, assim, recursos preciosos para a gestão”, observa. Mas ele lembra que em alguns casos, ao contrário, são confiadas à responsabilidade de indivíduos, sem prever para eles momentos sistemáticos de comparação e verificação. Estes podem levar a uma personalização da gestão. “Trata-se de dissociar-se da ideologia do homo oeconomicus, insaciável no seu desejo dos bens, cujas escolhas são determinadas pela maximalização do interesse pessoal e de relançar o desafio do homo fraternus, que não se cansa jamais de escolher a fraternidade”, acentua.
Segundo o frade, é necessário recordar que entre carisma e gestão dos bens não existe contradição; gerir segundo critérios econômicos não sufoca o carisma, mas permite perseguir e realizar objetivos partilhados. A vida consagrada oferece, assim, ao mundo, um testemunho evangélico”, completou.
Os frades aprovaram os novos Estatutos da UCLAF. Um diálogo com o Governo Geral e os Ministros e Custódios da UCLAF concluiu os trabalhos deste dia.
A Assembleia Geral termina nesta sexta-feira, às 18h30, com a Santa Missa presidida pelo Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli.
Equipe de Comunicação da Assembleia da UCLAF