Província do Santíssimo Nome de Jesus

Notícias › 28/12/2020

SÃO FRANCISCO E O ENCONTRO COM O CRUCIFICADO

Frei Renildo Cirineu, OFM

A partir do encontro com o Evangelho, Francisco estava sempre rezando nas Igrejas ou nos montes e também cuidando dos pobres, doentes e leprosos. E foi ao entrar numa igrejinha abandonada, dedicada a São Damião, que ao contemplar o Crucificado no Crucifixo de São Damião, ele recebeu a Missão: “vái e restaura minha casa”. O Encontro com o Crucifixo de São Damião tem singular importância na vida de Francisco. Após os vários encontros que lhe proporcionaram um autoconhecimento e a superação de limites, no encontro com o Crucificado, ele começa e entender sua Missão e Vocação:

 

O próprio Cristo era o único guia de Francisco em todo esse tempo. Em sua bondade, interveio mais uma vez com a suave influência de sua graça. Francisco saiu um dia da cidade para meditar, ao passar pela igreja de São Damião, que estava prestes a ruir de tão velha, sentiu-se atraído a entrar e rezar. De joelhos diante do Crucificado, sentiu-se confortado imensamente em seu espírito e seus olhos se encheram de lágrimas ao contemplar a cruz. Subitamente, ouviu uma voz que vinha da cruz e lhe falou por três vezes: “Francisco, vai e restaura a minha casa. Vês que ela está em ruínas”. (LEGENDA MAIOR, CAP 2, 1)

 

Francisco, vês que minha casa está em ruínas? Vá e restaura-a para mim. A partir de então, ele vai reconstruir literalmente as três igrejinhas que estavam abandonadas: São Pedro, São Damião e Nossa Senhora dos Anjos a Porciúncula. Ao reconstruir essas igrejinhas o que sobressai na vida de Francisco e na Igreja é uma restauração de si e da espiritualidade da Igreja cristã. Assim, a Espiritualidade Franciscana a partir do encontro com o Crucificado, também possui esse caráter de restauração da Igreja e das pessoas…

 

Firmado nesta base da humildade de Cristo e rico de pobreza, embora nada possuísse, entregou-se à restauração da igreja, de acordo com a missão que lhe coubera do Crucificado, com tanto empenho, que carregava as pedras em seus ombros enfraquecidos pelos jejuns. Não se envergonhava de mendigar a sua comida junto àqueles a quem outrora exibira suas riquezas. Alguns fiéis começavam a entrever o alto grau de virtude do homem de Deus: com a ajuda destes, bastante generosa, restaurou Francisco, depois de São Damião, as igrejas em ruína e abandonadas de São Pedro e de Nossa Senhora. Era um trabalho material que simbolizava antecipadamente a obra espiritual que o Senhor planejava confiar-lhe mais tarde. Pois assim como ele havia restaurado um tríplice edifício, assim também, sob seu impulso, a Igreja seria beneficiada com uma tríplice vitalidade, graças ao gênero de vida, à regra e à doutrina de Cristo transmitidos por ele. A voz que vinha do Crucificado dera-lhe por três vezes a ordem de reconstruir a casa. E nisso se vê também um sinal profético: nas três Ordens instituídas por ele. (LEGENDA MENOR, CAP I, 9)

 

Era comum naquela época ter grandes crucifixos nas igrejas onde não fosse conservado o Santíssimo Sacramento. Todavia, cada igreja tinha um Crucifixo diferente. O crucifixo que Francisco contemplou na igrejinha de São Damião era diferente do crucifixo das outras igrejas, por isso ele ficou conhecido como Crucifixo de São Damião e com grande importância para a espiritualidade Franciscana.

O CRUCIFIXO DE SÃO DAMIÃO, que estava exposto na Igrejinha de São Damião, data do século XII, tem dois metros e dez de altura por um metro e trinta de largura. Os elementos do Crucifixo narram o Evangelho de João. Por ele fazer parte central da Espiritualidade Franciscana, convém a nós compreender um pouco o seu sentido. Assim, brevemente, vamos tratar sobre os elementos desse tão preciso ícone.

CRUZ E JESUS: Jesus está como que saindo de uma cruz que simboliza um túmulo, preto, com delicada rendilha em torno. E o Cristo é, simultaneamente, o Crucificado pregado ao lenho e o Ressuscitado que sai do sepulcro. Cristo glorificado ao mesmo tempo pela morte e pela ressurreição. E nele está o cíngulo dourado que aparece no Apocalipse, que lembra a Realeza, ligar, perdoar… este símbolo vem decorado com o ramo de trigo em espiga, símbolo da Ceia de Jesus. Aparece também o Cordeiro, este que aparece despojado de todo sinal terrestre, sinal da aniquilação para a glória, da humilhação para a exaltação. Do lado do crucificado vemos a água e o sangue que jorra de um lado na cabeça do discípulo amado e no outro lado na cabeça de Maria sua mãe. Ao lado da pessoa de Cristo, embaixo e perto da sua perna, vemos um galo (Jo 18,27) que nos faz lembrar Pedro, mas que também simboliza o cristão. Acima da cabeça podemos ver os dizeres da condenação por Pilatos (Jo 19,19). Ainda acima da inscrição vemos o Cristo em círculo perfeito subindo ao Pai e religando a humanidade decaída, Ele ultrapassa a linha negra do pecado e eleva ao Pai aqueles que creem.

PERSONAGENS DA SEXTA-FEIRA-SANTA: Sob os braços de Cristo estão os personagens que aparecem na Paixão, perto de cada uma de suas mãos: anjos da manhã e mulheres que trazem o bálsamo. Há também o personagem que com a lança fere Cristo pelo lado, a fim de rasgar o coração por dentro. E do lado esquerdo, um personagem de barba que, em uma atitude de desafio para com Cristo, representa os judeus. Abaixo dos pés do Crucificado, vemos a dupla Pedro e João (Jo 20, 3ss) tentando entrar no sepulcro vazio. Ainda embaixo vemos as três Marias, prostradas em reverência ao Mestre. Embaixo das mãos do Crucificado podemos ver também os anjos narrados no Apocalipse. Logo acima percebemos dez cabeças dentro do círculo que representam os dez discípulos, menos Judas, que foi o traidor, e Tomé, que não estava presente quando Cristo se manifestou glorioso. Abaixo do galo vemos um peixe que representa o milagre da pesca com Cristo já glorioso (Jo 21,9-10).

ASCENSÃO: No alto do Crucifixo está o Ressuscitado, em sua ascensão para o Pai. Na parte mais alta do ícone há os dedos de Deus dentro de um semicírculo ocultando a outra metade dele.

DISCÍPULOS: O discípulo fiel aparece encostado em Cristo bem destacado, e está ao lado de Maria que ele acolheu como mãe (Jo 19,26-27). A mãe de Jesus e o discípulo amado apontam para o Crucificado. Personagens vivos, falantes, gesticulantes, atentos à Palavra do Verbo. Do lado esquerdo do Crucificado encontramos as duas Marias com o Centurião que teve o seu servo curado, num gesto de admiração, falando e testemunhando a alegria da redenção. As cabeças atrás representam a Igreja nascente.

 

Texto base: SURIAN, Frei Carmelo. Contemplando o CSD. Aparecida/SP: Editora Santuário, 1997.  pp. 61 a 151

 

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