Província do Santíssimo Nome de Jesus

Notícias › 22/02/2021

SÃO FRANCISCO E O ENCONTRO COM DEUS: O TRÂNSITO

Todos nós caminhamos para o pleno encontro com Deus. Na vida de São Francisco podemos ver esse encontro como uma integração no momento em que ele recebeu os Estigmas de Cristo e também no momento de sua passagem para o Pai.

E assim, dois anos antes de entregar seu espírito ao céu, conduzindo a divina providência, foi levado depois de diversas fadigas a um lugar alto à parte que se chama Monte Alverne. E como aí estivesse começado, segundo seu costume, a jejuar uma quaresma em honra do Arcanjo Miguel, transbordando mais profusamente do que de costume da suavidade da contemplação do alto e inflamado por mais ardente chama dos desejos celestes, começou a sentir mais copiosamente os dons das visitações do alto…

Por revelação divina, teve sua alma conhecimento de que, abrindo o livro dos santos Evangelhos, Jesus Cristo lhe manifestaria de que modo deveria agir para ser mais agradável a Deus em si e em todas as coisas. Com fervorosa oração, pois, se preveniu e depois mandou um de seus companheiros, homem devoto e de grande santidade, tomar o livro dos Evangelhos e abri-lo três vezes em honra da Santíssima Trindade. E como todas as vezes que se abriu o livro ocorreram as páginas em que se fala da paixão de Cristo, logo compreendeu Francisco que, da mesma forma como havia imitado a Cristo nos principais atos de sua vida, assim também devia conformar-se com ele nos sofrimentos e dores da paixão, antes de abandonar esta vida mortal. Não se intimidou. Muito pelo contrário, embora esgotado pelas austeridades e pela cruz do Senhor que ele levara até aí, sentiu-se animado de um novo vigor para submeter-se a esse martírio.

Assim transportado em Deus pelo desejo de seráfico ardor e transformado, por compaixão, naquele que, em seu excesso de amor, quis ser crucificado, rezava um dia num lado do monte, estando próxima a festa da Exaltação da Santa Cruz; e eis que ele viu descer do alto do céu um serafim de seis asas brilhantes como fogo. Num rápido voo chegou ele ao lugar onde estava o homem de Deus, e apareceu então um personagem entre as asas: era um homem crucificado, com as mãos e os pés estendidos e presos a uma cruz. Duas asas se erguiam por cima de sua cabeça, duas outras desdobradas para o voo e as duas outras cobriam-lhe o corpo. Essa aparição fez Francisco mergulhar num profundo êxtase, enquanto em seu coração sentia um gozo extraordinário mesclado com certa dor. Porque, em primeiro lugar, via-se inundado de alegria com aquele admirável espetáculo, no qual se gloriava de contemplar a Cristo sob a forma de um serafim, mas ao mesmo tempo a vista da cruz atravessava sua alma com a espada de uma dor compassiva. Era grande, sua admiração diante de semelhante visão, pois não ignorava que os sofrimentos da paixão eram incompatíveis com a imortalidade dos espíritos celestes. Veio então a conhecer por revelação divina que essa visão lhe havia sido providencialmente apresentada para que, como amante de Cristo, compreendesse que devia transformar-se totalmente nele, não tanto pelo martírio corporal quanto pelas chamas de amor de seu espírito. Ao desaparecer aquela visão, deixou no coração de Francisco um ardor admirável e imprimiu em seu corpo uma imagem não menos maravilhosa, pois no mesmo instante começaram a aparecer em suas mãos e pés os sinais dos cravos, iguais em tudo ao que antes havia visto na imagem do serafim crucificado. E assim era na verdade, porque suas mãos e pés estavam atravessados no meio por grossos cravos, cuja cabeça aparecia na parte interior das mãos e superior dos pés, ficando as pontas aparecendo do outro lado. A cabeça dos cravos era redonda e negra; as pontas, bastante longas e afiadas e com evidentes sinais de haver sido retorcidas, resultando daí que os cravos sobressaíam do resto da carne. De igual modo, no lado direito do corpo do santo aparecia, como formada por uma lança, uma cicatriz vermelha, da qual brotava às vezes tanto sangue que chegava a umedecer a túnica e as roupas internas. (LEGENDA MAIOR, XIII, 1-3)

 

Em 1224, no Monte Alverne, Francisco recebe os Estigmas da Paixão do Senhor, provavelmente no dia de São Miguel Arcanjo, 29 de setembro. Dois anos antes de entregar seu espírito ao Pai. A impressão das chagas em seu corpo foi a coroação de toda sua busca. Pois, desde o início de sua conversão, ele se deslumbrava ao Contemplar o Crucifixo de São Damião. Assim, Cristo é o centro de sua espiritualidade e o centro da Ordem Franciscana.

Cristo como centro da Espiritualidade fez com que houvesse uma dinamização do Carisma Franciscano. Significa que não tem fechamento em si mesmo, mas abertura para a Graça. Assim, podemos ver que o sentido da existência do Carisma Franciscano está em Deus, que por meio de seu Filho Jesus, que deu a vida por amor a nós, se fez presente na vida de Francisco. Portanto, Francisco viveu a certeza de que Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela humanidade: “amou-os até o fim” (Jo 13,1).

A partir das Chagas que Francisco recebeu podemos ver que ele realmente viveu seguindo o Santo Evangelho: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Tomar a cruz significa vencer-se a si mesmo, ou seja, despojar dos egoísmos, das ilusões, dos prazeres e abrir-se para um modo de existência a partir de Cristo.

Pouco tempo depois, aos 3 de outubro de 1226, houve o encontro definitivo com Deus, foi sepultado no dia 4 de outubro. No ato dessa passagem podemos ver a integração espiritual de Francisco nas suas atitudes. Um marco dessa integração é a composição do Cântico das Criaturas, composto em 1225, no qual louvava todas as criaturas como irmãos e irmãs: “Louvado sejas meu Senhor por todas as tuas criaturas…”.

Por ocasião de sua morte, Segunda de Celano, Cap. CLXII, 214, “Ele mandou que fosse deposto nu sobre a terra nua (Is 14,1), para, naquela hora extrema em que o inimigo ainda podia irar-se, lutar nu com o nu.  Despojado da veste de saco, ele elevou, como de costume, o rosto ao céu e, fixando-se todo naquela glória, cobriu com a mão esquerda a chaga do lado direito para que não fosse vista. 216 “Eleva as mãos ao céu e engrandece o seu Cristo, porque, já despojado de tudo, vai livre para ele…” E abençoou também a todos os irmãos que viviam em toda parte do mundo e os que haveriam de vir após eles até ao fim dos séculos dos séculos.

E assim, rapidamente, em 1228, Francisco foi canonizado. Diz o livro da Primeira de Celano, 124: “A vida santíssima do homem santo não precisa de testemunho de milagres; nós a vimos com nossos olhos, a tocamos com nossas mãos, a comprovamos tendo a verdade como mestra. Todos dançaram, se alegraram, choraram…”; 126: “O bem-aventurado papa Gregório IX clama em voz alta e, estendidas as mãos ao céu, disse: “Para o louvor e glória de Deus onipotente, Pai e Filho e Espirito Santo, e da gloriosa Virgem Maria e dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e para a honra da gloriosa Igreja Romana, venerando na terra o beatíssimo pai Francisco, a quem o Senhor glorificou nos céus, tendo ouvido o conselho dos nossos irmãos e de outros prelados, decretamos que ele seja inscrito no catálogo dos santos e que a sua festa seja celebrada no dia de sua morte”. E todos começaram a cantar em alta voz o Te Deum Laudamus.

 

Frei Renildo Cirineu, OFM

 

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

Contatos

(62) 3327-0497

pvofmgoias@terra.com.br

Endereço

Av. São Francisco de Assis, 363 - Bairro Jundiaí, Anápolis, GO - Cx Postal 461

Center map
Como chegar

Facebook

X