Escrever: serviço de carpintaria
A plaina acaricia a madeira alisando-a e dando-lhe formas refinadas. A grosa dava o acabamento necessário àquelas partes mais rústicas da peça. Pregos, martelo, serrote, amor, rosto suado, mãos rugosas, firmes e decididas acompanhando cada detalhe da madeira. Maria a tudo acompanhava lá de sua visão de mãe e esposa; Jesus aprendia não só o ofício do pai, mas recebia como herança a educação e a honestidade daquele homem humilde e de silêncio.
Talhar um texto é o mesmo trabalho de carpintaria: aplainar os pensamentos, grosar as palavras, serrar o excesso de informações repetidas, suar o rosto, medir o pensamento e dar-lhe o acabamento final, deixando espaço para o consumidor completar a obra. Talhar um texto é cria-lo com “clareza, coesão, coerência e precisão de pensamento” (prof. Geraldo Faria/IFITEG, 2008), tal como uma mesa nasce das mãos habilidosas de um carpinteiro.
Assim como a grosa trabalha as partes rústicas da madeira, o dicionário auxilia no tirar as dúvidas que se tem com o significado duma palavra; assim como o serrote apara a madeira dando-lhe o tamanho exato necessário, a boa leitura auxilia não só no aparo de erros de ortografia e pontuação, como na ampliação da cultura. Como o formão com seu gume largo auxilia o marceneiro a talhar a madeira, assim, também, o exercício de sempre ler e ouvir primeiro auxiliará a escrever e a falar melhor com delicadeza e comprometimento.
Se o exercício de um ofício profissional dignifica a vida, a leitura e os estudos ampliam nossos horizontes, e lapidam nossa cultura.
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Rodapé: As imagens acima são afetivas, e calam fundo em minh’alma: São José no exercício do seu ofício de carpinteiro. Nossa Senhora, na roda de fiar. Jesus, um menino bonito, um adolescente em pleno desenvolvimento. É imagem que enobrece a minha alma em primeiro de maio, ou 19 de março. É a Família Sagrada, sagrada pelo amor, pelo diálogo, por tanta compreensão, pelo trabalho, pelo refletir a vida. Família em atitudes de ensinar e de aprender.
Campanha da Fraternidade 2022 “Fraternidade e Educação”, “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr. 31, 26). Seja a Família, seja a Escola, seja a Igreja, o Clube de Futebol, a arena Musical, os Meios de Comunicação Social espaços onde exista e aconteça a Educação Integral de conhecimentos científicos, culturais e imateriais (virtudes e valores) zelando pela formação, pesquisa e extensão, e não só espaço de reprodução conteudista e disciplinar exterior. Seja uma Educação que prepare toda a comunidade escolar para a disciplina no sentido de educação interior para a vida ética, solidária, altruísta e comprometida com a vida, a dignidade, a justiça social, e com o saber cuidar do próximo, do meio ambiente, e da nossa Casa Comum, nosso Planeta.
E se não for muita utopia, havemos de lutar para sanar as desigualdades que outrora existiam dentro do ambiente escolar educacional e que foram acentuadas com a pandemia Covid-19, para vencermos as desigualdades sociais impostas a nós pelo próprio sistema. Pandemia com seu primeiro registro de caso em solo brasileiro dia 26 de fevereiro de 2020, e isolamento social iniciado dia 16 de março daquele ano. Há muito o que pensarmos para o agora no campo educacional: Qual sentido hoje foro privilegiado? Que valor de cidadania dão-nos os políticos ao voto que lhes confiamos em cada eleição? Nós temos uma leitura dos políticos e da política; como os políticos nos veem? Alguém me contou que famílias, há poucos dias, recebiam ossos para se alimentar, enquanto políticos aprovaram fundo eleitoral de até 5,7 bilhões. Qual contribuição à Educação oferece para nossas crianças, jovens e adultos para pensarem o nosso agora? Prato vazio, violência crescente, desemprego acelerado.
Num País aonde lideranças acostumaram a dizer que a culpa é sempre do outro que passou, a Educação deve nos preparar para assumirmos as rédeas da história, da cultura, da vida, e a responsabilidade pela construção de uma sociedade melhor agora. Para isso, devemos refletir o que a Filosofia da Educação nos propõe: Que educação temos? Que educação queremos ter? Que sociedade temos? Que sociedade queremos ter? Que tipo de formação humana, técnica e científica temos? E para que tipo de sociedade estamos nos formando?
Discípulos da Palavra, escutar a realidade, discernir e agir, movimentos espirituais para, nos passos de Jesus nosso divino mestre, refletirmos a Educação que temos, e aquela que queremos ter.
Frei Ronildo Arruda, ofm.
