Retiro em Anápolis: O Cântico das Criaturas e o Chamado ao Cuidado da Casa Comum
No Seminário Regina Minorum, em Anápolis, frades e leigos se reúnem entre os dias 14 e 16 de fevereiro de 2025 para o Retiro de Evangelização e Missão da Província do Santíssimo Nome de Jesus do Brasil. Três dias de oração, partilha e reflexão, onde o espírito franciscano nos convida a escutar, mais uma vez, o Cântico das Criaturas, que há 800 anos ressoa como um louvor à vida e ao Criador.
Francisco, já marcado pelos estigmas, envolto na pobreza e na dor, ergueu sua voz para cantar a beleza do mundo. Chamou o sol de irmão, a lua de irmã, viu no fogo a força da ternura e na água a pureza da alma. Seu canto não nasceu da abundância, mas da certeza de que tudo é dom, de que Deus viu e declarou: tudo era muito bom. Hoje, seu cântico nos alcança e nos questiona: conseguimos ver a bondade do Criador em tudo o que existe? Somos capazes de louvar quando a terra chora, quando os rios adoecem, quando os pobres clamam?
Na manhã deste sábado, Frei Fernando Inácio nos convidou a refletir sobre a ecologia integral, lembrando que “Deus nos criou para uma casa, mas esta casa está ameaçada”. A partir da fundamentação bíblica, ele nos conduziu a um olhar de gratidão e responsabilidade, questionando: como temos habitado essa casa? Frei Túlio Oliveira aprofundou a ecologia espiritual, mostrando como o Cântico das Criaturas não é apenas uma poesia, mas uma experiência mística. “Francisco se despiu de toda agressividade e escolheu o caminho do louvor. Seu cântico é o hino do homem reconciliado com todas as coisas”, afirmou.
No final da tarde, Frei Lucas Izaqueu trouxe os desafios concretos do nosso tempo, partilhando sua experiência morando no norte do Brasil, onde a natureza ferida se reflete na dor dos mais pobres. Inspirado na Laudato Si’, ele nos recordou que a crise ecológica é também uma crise de fé. “Se não percebemos que somos responsáveis pela casa comum, estamos negando o dom de Deus”, alertou.
A Campanha da Fraternidade 2025, ao trazer o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, nos oferece um caminho de conversão. Como Francisco, somos chamados a uma espiritualidade que não se separa da vida, mas que toca o chão, sente o vento, acolhe a dor da criação. Durante este retiro, refletimos sobre nossa casa comum, guiados pela Palavra, pelos ensinamentos do Papa Francisco, pelo olhar de quem vê na ecologia não apenas uma questão ambiental, mas um compromisso de fé.
Na simplicidade destes dias, no silêncio da oração, na partilha fraterna, reencontramos aquilo que Francisco viveu: a alegria de quem pertence, de quem cuida, de quem louva. Que este retiro nos faça sair diferentes, mais irmãos de todas as criaturas, mais atentos à beleza do mundo, mais dispostos a viver o Evangelho com os pés no chão e o coração em Deus.
Danilo Inácio – Comunicação Provincial