Advento: tempo de renovar, é tempo de esperançar

“O homem é o único animal que cospe na água onde bebe; o homem é o único animal que mata prá não comer; o homem é o único animal que corta a árvore que lhe dá sombra e frutos; por isso está se condenando à morte.” (Benedito Ruy Barbosa)

Nosso ano de 2020 foi um ano atípico. Ano que exigiu de nós novos aprendizados; aprendizados condutores de cada um de nós a ressignificar nossa existência. Aprendemos muito, não só com a pandemia Covid-19, mas com queimadas que ceifaram a vida de nossa fauna e nossa flora em muitas regiões do País; e sofremos também com a retração da economia e o desemprego. Entretanto, não podemos desanimar, pois é Jesus quem nos diz “tende confiança, não tenhais medo” (Mt. 14, 27).

Estamos concluindo o tempo do Advento. Advento,  tempo de esperançar: rezar, rever a caminhar, organizar o templo do coração, tudo isso para bem receber a Boa Notícia, o Menino Jesus. Mas, a meditação, a reflexão requer de nós atitude, agir, um “propositum” – compromisso pessoal e fraterno-comunitário – que nos conduz a uma perfeição evangélica, por meio de obras e ações com um ideal “eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21, 5).

Advento, tempo de gratidão: pelas lutas, conquistas, derrotas, vitórias, pois aprendemos muito a cada dia. Gratidão pelos trabalhos missionários que conseguimos desenvolver, pelos obstáculos que nos fizeram crescer humano, psicológico e espiritualmente.

Advento: tempo de elaborar planos nos perguntando: para onde está direcionado o meu coração? O que realmente importa para mim? Que missão, que visão de futuro, valores, objetivos e ações tenho realizado em prol da vida, em prol do meu próximo, em benefício do Planeta, nossa casa comum? Perguntas essenciais a nós como nos lembra o escritor Anderson Cavalcante. Estamos concluindo o Advento, e algumas horas nos aproximam do Natal, nascimento de Jesus luz e esperança para nós.

O Natal, nesse ano tão atípico de 2020, será mais Natal se termos a certeza de que teremos um coração renovado, cheio de luz, paciência, compreensão, diálogo, amizade a ofertar ao próximo a cada dia, lembrando do que a Encíclica Fratelli Tutti nos pede: “não descartar a ninguém de nossas relações sociais, lutar pela dignidade humana, sermos gentis e capazes da conversão e reconciliação sempre”.

E busquemos lembrar sempre: o ano novo ideal, a família ideal, o serviço ideal, a vida religiosa consagrada ideal que sonho, tudo começa em mim, entretanto, todos nós estamos interligados, porque “todos vós sois irmãos” (Mt. 23, 8). Por isso havemos de buscar a cada dia o caminho da reciprocidade, da cooperação, e da fraternidade, da humildade e pobreza do Presépio, nos educando em torno da Mesa Comum Eucarística, e da radicalidade da Cruz a cada dia. Recordando: “tomar a cruz é abraçar nossas contradições humanas, e nos propor um caminho de mudança de vida e de atitudes pela conversão” (Anselm Grun).

Frei Ronildo Arruda, ofm.